Na cultura do gaúcho, a tradição é comer uma carne assada bem gorda. Se for de ovelha, melhor ainda. No entanto, a carne de outra espécie que tem um sabor muito especial se agregada ao churrasco é a de caprinos. Porém, como não existe este apreço na região sul do país, o mercado consumidor forte é concentrado no sudeste, norte e nordeste brasileiros. Mesmo assim, há quem já tenha apostado na criação destes animais aqui. É o caso do criador Gilmar José Teixeira, 52 anos, proprietário da Cabanha São Bernardo, que fica no distrito de Palma, em Santa Maria, e há cinco investe na caprinocultura. No começo, a produção era voltada para animais de corte, ou seja, com a finalidade de produção de carne com foco no consumo. Mas o mercado escasso fez ele mudar para outro ramo ainda dentro do mundo dos caprinos.
– Eu vendia cerca de 350 animais ao mês. E tinha demanda para mais. Mas nada disso aqui no Estado. Meus clientes eram do Paraná, São Paulo, e estados do Norte do país – conta Teixeira.
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Segundo ele, não há tradição em criação de caprinos no Sul por causa da marginalização sobre o animal. Na opinião dele, é apenas por falta de conhecimento técnico.
– Já ouvi gente falar que desistiu de criar o cabrito porque ele é um animal roceiro, que come tudo que é planta. Na verdade, o caprino é extremamente dócil, amável e curioso. Para que a sua criação seja adequada, é preciso ter uma cerca reforçada, e saber que ele come para cima, ou seja, se alimenta de brotos, folhas e pequenos galhos. Ele não pasta – explica o produtor, salientando que a espécie foi a primeira usada para obtenção de carne, leite e pele.
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O grande obstáculo em relação à criação, conforme Teixeira, é a dificuldade de inserção da carne de cabra na alimentação dos gaúchos. Segundo ele, o consumo fica em cerca de 100 gramas ao ano por pessoa no Rio Grande do Sul.
– Não é um produto de baixo custo, mas é uma carne que não tem gordura e é rica em valores nutricionais. Ela é indicada, por exemplo, para crianças em desenvolvimento. O caprino é diferenciado em saúde e qualidade. Em muitos casos, o que falta é interesse das pessoas em informações – ressalta Teixeira.
Alem disso, não há incentivo de entidades que possam ajudar no suporte da criação.
Alternativa é o leite:

Com a baixa procura no mercado, o criador Gilmar Teixeira resolveu mudar. Deixou de investir em caprinos de corte para apostar na produção leiteira e de seus derivados. A ideia é comercializar o leite, o iogurte e o queijo Boursin, a fim de atender o mercado regional. Para isso, hoje o criador conta com um rebanho de 15 fêmeas que produzem entre 6 e 8 litros de leite por dia, em duas ordenhas diárias. Ainda tem macho para garantir a renovação do rebanho. Todos são mantidos confinados em um galpão a fim de evitar doenças. No local, um rádio fica ligado durante todo o dia. Segundo Teixeira, a música evita que os animais fiquem estressados. A alimentação consiste em ração balanceada e feno à vontade.
Para quem deseja iniciar na criação de caprinos, a dica é conhecimento e cuidados, segundo o médico veterinário Ricardo Lopes Machado, do Escritório Regional da Emater.
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– A atividade de criação de caprinos é promissora, no entanto é preciso estar ciente de todos os gargalos da produção antes de iniciá-la. O produtor deve estudar sobre a criação, ver se a propriedade tem condições de receber este tipo de animal, devido as suas características e suas limitações – diz o veterinário.
Conforme Machado, não há uma grande difusão da carne no mercado gaúcho devido aos altos valores e pela própria tradição, que é muito voltada às carnes bovina e ovina. Já o leite de cabra tem melhor aceitação, principalmente pelas suas propriedades nutricionais.
Raças – Há muitas raças de caprinos, mas duas são as mais usadas conforme a finalidade. Para carne, a boer é mais popular, já que o ciclo de produção é menor (com 90 dias ele já tem peso para abate) quando comparado com outras raças e o rendimento é maior, uma vez que a estrutura e porte físico do animal se sobressaem em relação a outros, além da ótima fertilidade. Para a produção de leite, a raça mais popular é a saanen, com alta produção leiteira. A fertilidade é diferenciada, com gestação de dois e três cabritos a cada cria.
Carne – A carne caprina é uma das mais saudáveis do mercado. Além de maciez e sabor, os principais diferenciais são: baixo teor de gordura, baixa taxa de colesterol, riqueza em cálcio e proteína, presença de ômega 3 e ômega 6. O sabor desta carne, assim como a sua qualidade e a sua cor, estão dependentes de dois fatores: a idade que o animal tem quando é abatido e o tipo de alimentação. A gestão da espécie é de cinco meses. Após um período entre 60 a 90 dias já estão aptos ao abate, quando alcançam um peso de cerca de 30 quilos. A carcaça produzida é de cerca de 12 quilos. A carne caprina integra pratos típicos da cultura nordestina do país, e vem sendo integrada a receitas da alta gastronomia.
Leite – O leite de cabra é dotado de propriedades como carboidratos, proteínas, vitamina A, vitamina B2, vitaminas C e D, cálcio, magnésio, fósforo, ferro, potássio, selênio, zinco e cobre, além de ter um menor nível de colesterol do que o de vaca. Também contém propriedades que ajudam na reconstrução da flora intestinal. A digestão e a absorção do leite de cabra é duas vezes mais rápida em comparação ao leite de vaca, sendo indicado também para crianças desnutridas. Pessoas intolerantes à lactose devem ter cuidado com o seu consumo, pois o leite de cabra possui lactose em sua composição. Mas alguns iogurtes e queijos elaborados com o leite de cabra podem não conter lactose em suas composições devido à sua eliminação a partir do processo de fabricação ou pelo uso da enzima lactase.
Fonte de índices nutricionais: www.abccaprinos.com.br